sexta-feira, 7 de março de 2008

porque fogem as mulheres da anestesia no parto

Mais um artigo interessante da revista Pais e Filhos do Brasil e que se enquadra na temática deste blogue. Deixo aqui para quem se interessar sobre o que se pensa em outras paragens.
Quando passou a ser usada para aliviar as dores do parto, no século 19, a anestesia foi comemorada como uma conquista feminina. Hoje, mais e mais mulheres optam por dar à luz sem ela. A gente foi investigar por quê.
No mundo todo cresce o número de mulheres que optam pelo parto sem anestesia. No Brasil, um dos campeões mundiais em cesariana, os índices ainda são pequenos, visto que, óbvio, a anestesia só pode ser dispensada no parto vaginal. Ainda assim, cada vez mais mães que buscam o parto natural, com o mínimo de intervenção médica, dispensam a dor da picada e enfrentam a das contrações, da dilatação e da expulsão do bebê. Onde quem opta pela cesariana, temendo o parto normal, vê dor, as mães que evitam a anestesia enxergam prazer. Segundo elas, sentir o nascimento do filho é uma delícia. Para algumas, comparável a um orgasmo.
No livro As 500 Melhores Coisas de Ser Mãe, das publicitárias Juliana Sampaio e Laura Guimarães, autoras do blog que virou programa de TV Mothern, a 29ª melhor descoberta da maternidade é “reconhecer o valor de ter nascido após a invenção da anestesia”; e a 30ª, “ou encarar um parto natural sem isso e descobrir-se mais forte e poderosa do que você jamais se imaginou”. Ou seja, questão de opção. Ninguém é mais mãe por sentir dor, claaaaro. Nem precisava dizer, mas a gente faz questão.
Na primeira vez que a anestesia foi usada com esse fim, corria o século 19. A rainha Vitória deu à luz seu oitavo filho sob efeito do clorofórmio. A peridural, usada até hoje, surgiria só no século 20. No Brasil, o governo passou a pagar ao SUS pela anestesia dada no parto normal apenas a partir de 1998. Na Europa, em geral, as anestesias continuam sendo evitadas. Em outros países, como Espanha, Portugal e nos Estados Unidos, são usadas de forma liberada, mas também cresce o movimento por menos intervenções.
Entre as razões citadas pelas mães para evitar a anestesia estão o desejo de perceber o momento em que os bebês nascem, sentir prazer durante o parto, evitar que os bebês tenham contato com os anestésicos e ter maior mobilidade para amamentar. Segundo o neonatologista Carlos Eduardo de Carvalho Corrêa, filho de Victor e Silma, um procedimento sem anestesia estabelece rapidamente o vínculo materno. Ele cita estudos que mostram que bebês nascidos de partos sem a necessidade de anestesia, ao serem colocados sobre o ventre da mãe, logo após o nascimento, fazem um movimento em direção ao peito materno, o que não acontece com bebês nascidos sob intervenções anestésicas.
- Diminuindo a dor:
Mas como conseguir tudo isso? Uma das respostas é recorrendo ao apoio de uma doula, acompanhante de parto que, além de dar apoio e incentivo na hora mais dolorida, ensina técnicas de respiração que ajudam a diminuir o desconforto. A presença dessa profissional, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), diminui em cerca de 60% os pedidos de anestesia. Claro que fica muito complicado não fazer nenhuma preparação prévia e querer ter o filho a seco na hora...
Segundo a doula Cristina Balzano, mãe de Mônica, Miguel e João Pedro, o ideal é que a mulher não prenda o ar durante as contrações. “A respiração tranqüila, pelo abdômen, oxigena também melhor o bebê”, explica. Outras dicas são a escolha da melhor posição, que é individual para cada mulher, massagens e o contato com a água, seja numa banheira, ducha ou com compressas, já que, diz Cristina, a água é um excelente analgésico natural.
Foi a água que auxiliou Mariana Betioli, mãe de André. Compressas feitas nas costas ajudaram no trabalho de parto. “Queria sentir cada momento lúcida, à vontade e segura”. Já Daniela Aragão, mãe de Pedro, Bernardo e Julia, teve os três filhos em partos normais: o primeiro com anestesia; os outros dois, sem. Para ela, não há comparação. “Prefiro quando tenho controle e sei a hora em que tenho de fazer força. Trabalhar em sintonia com o bebê foi a melhor sensação que já vivenciei”.
O próprio organismo se encarrega de produzir substâncias que contribuem para aliviar a dor. “O trabalho de parto oferece as ferramentas para diminuir as sensações dolorosas, produzindo um incremento fantástico nas endorfinas (substâncias conhecidas como “analgésicos do cérebro”)”, diz o obstetra e homeopata Ricardo Herbert Jones, pai de Lucas e Isabel, que relata, no livro Memórias do Homem de Vidro, sua opinião sobre o tema. A incidência das anestesias nos partos que acompanha é de quase zero.
O cérebro tem um poder tão fantástico que basta a gente acreditar que não vai mais sentir dor para ter algum alívio. Segundo um estudo feito na Universidade de Michigan, nos EUA, a simples menção de que iriam receber um anestésico fez com que pacientes que tinham tomado uma substância causadora de dor registrassem um aumento na produção de endorfinas. Acontece que a substância não passava de um placebo, sem efeito nenhum.
- O direito à mudança:
Mas é claro que você não precisa ser radical. É sempre muito bom saber que a gente pode optar pela anestesia se, na hora H, a dor for demais. Heather, mãe de Emily, Lucas, Logan e Anna Elisa, durante sua gravidez mais recente, não queria anestesia de jeito nenhum. Mas, na hora, a dor ficou forte demais. “Estava além do meu limite. Com certeza, a anestesia ajudou.”
O obstetra e acupunturista Marcos José Pires, pai de Leonardo e Nathalia, acredita que a analgesia de parto, se aplicada no momento certo, isto é, quando as contrações ficam mais fortes entre 6 cm e 8 cm de dilatação (o total é de 10 cm de dilatação do colo do útero, quando o bebê nasce), pode garantir que a gestante tenha um parto normal. “Já no início do pré-natal, a mulher se preocupa com a dor. Sabendo da possibilidade de um procedimento que melhore bem essa dor, elas ficam mais estimuladas a tentar o parto normal”.
E, acredite: depois da picada, você realmente não sente nada. É um alívio e tanto quando a coisa começa a ficar insuportável para os padrões de algumas mulheres. Nada de bancar a heroína, não é essa a idéia.
Segundo o obstetra, que também usa a acupuntura para aliviar a dor, a analgesia atua melhorando a evolução do parto normal, facilitando a descida do bebê e a dilatação. Mas o médico alerta que isso só acontece se for feita no momento adequado, com acompanhamento do obstetra e com anestesista experiente. Caso contrário, ela pode favorecer uma parada das contrações uterinas e dificultar a dilatação, aumentando o risco de cesariana.
A Dra. Daphne Rattner, filha de Heinrich e Miriam, técnica da área de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, acredita que mulheres que, sentindo-se bem acolhidas, acompanhadas por pessoas de suas relações e profissionais que lhe inspiram confiança conseguem, muitas vezes, controlar as contrações e até não sentir a dor. Porém, quando essas condições não ocorrem, aumenta a tensão e, conseqüentemente, a dor. Daí a importância da anestesia. O melhor é não fazer nada contra a vontade. A sua, óbvio. Se achar que não precisa, tente sem. Se achar que precisa, peça e pronto. Doa a quem doer. Só não pode doer mais do que você consegue (e quer) suportar

porque optam hoje as mulheres por parir em casa

Achei interessante esta noticia que saiu na revista Pais e Filhos em 2006, mas que só agora tive conhecimento e aqui deixo para conhecimento de todos, porque penso que se mantém actualizado e desejavel.
É mais antigo do que andar para a frente e até por isso o parto em casa, hoje em dia, assusta tanta gente. Com toda a segurança, tecnologia e infra-estrutura das maternidades, pode parecer maluquice. Mas quem já fez garante que a experiência é inigualável.
Em vez da sala de parto e o quarto do hospital, o conforto da própria casa. No lugar de médicos e enfermeiras de luvas e aventais, uma parteira. Nada de anestesia, cortes ou procedimentos invasivos, mas, sim, uma experiência mais natural do nascimento. O parto feito em casa, também chamado de domiciliar, causa estranheza, gera medo e parece ser coisa de gente maluca. Porém, essa foi a regra que vigorou durante muitas décadas, até meados dos anos 50, e cada vez mais tem conquistado a mulherada dos dias de hoje. E tem mais: é seguro, a probabilidade de infecção é menor e o vínculo que se estabelece com o bebê é muito maior.
“Hoje respiramos uma cultura hospitalar. Para quem mora nas grandes cidades e vive esta época, ter um parto em casa é inconcebível, é coisa de índio, de bicho”, relata a enfermeiraobstetra Vilma Nishi, mãe de Carolina e Luisa. De acordo com ela, as mulheres que se interessam pelo parto em casa têm a característica de serem mais ligadas à natureza e, de alguma forma, procuram realizar o desejo de vivenciar um processo mais natural. “Se engravidamos naturalmente, deve haver um jeito natural também de darmos à luz”, diz a parteira.
Na consulta inicial, as parteiras conhecem a história dos pais e seus desejos. O pré-natal continua sendo feito por um médico, que acompanha as condições de saúde da mãe e o desenvolvimento do bebê. Com a parteira, a mulher vive outro tipo de experiência, mais ligada às emoções e sensações. Muitas mulheres descrevem as consultas como uma verdadeira terapia. São conversas, massagens e períodos de reflexão.
As pessoas que defendem o parto em casa acreditam que tanto os pais quanto os bebês são beneficiados. Elas dizem que no hospital os médicos colocam a mãe em uma atitude passiva. “A mulher deve ser protagonista do parto. Em casa, ela tem liberdade para escolher a posição que quer ficar, a música que quer ouvir, o que quer comer. O profissional apenas presta uma assistência”, explica a enfermeira-obstetra Marília Largura, de 71 anos, mãe de Paulo, Victor e Sarita.
Marília diz que o primeiro contato do bebê com a equipe médica costuma ser marcado por tensão, nervosismo, excesso de manipulações e verificações. Já em casa, a mãe pode ficar com o filhote durante o tempo que quiser, dar banho, amamentá-lo e curtir os primeiros momentos na tranqüilidade do lar. Outro aspecto positivo, na visão da parteira, é que o parto domiciliar estreita a relação dos pais com as crianças. “Quanto mais partos eu assisto em casa e no hospital, mais eu me convenço de que o lugar mais natural para dar à luz, quando se está sadio, é na própria casa”, explica.
As parteiras rejeitam as afirmações de que o parto em casa traz riscos de infecção tanto para a mulher quanto para a criança. “Em casa a mulher está no seu hábitat, com suas próprias bactérias. As chances de infecções são infinitamente menores”, argumenta Vilma.
- Humanização:
Vilma, uma das parteiras mais conhecidas de São Paulo, construiu sua carreira trabalhando durante quase 30 anos em hospitais. Sua vida mudou em 2001, quando conheceu o trabalho de uma parteira alemã, adepta do parto humanizado. Desde então, Vilma dá assistência às mulheres que têm o sonho de dar à luz em sua própria casa, como fez Claudia d’Orey, mãe de Valentina, 1 ano e 4 meses.
Claudia conheceu a parteira quando estava no quinto mês de gravidez. Ela já havia procurado 15 médicos e não tinha se identificado com nenhum deles. “Me encantei com a Vilma logo na primeira consulta. Em vez dos exames tradicionais, ela fez massagens, conversou muito comigo, me deixou confiante”, descreve a musicista, que, até então, não sabia da possibilidade de dar à luz em casa.
Os quatro meses seguintes foram recheados de consultas, informações sobre o parto e o pós-parto, além das massagens. “Estabelecemos um vínculo muito forte nesse período”, conta Claudia. E, assim que sua bolsa estourou, por volta da 1 hora da madrugada, ela logo ligou para Vilma. A parteira seguiu para a sua casa conforme o combinado. Ao contrário do que muita gente imagina, a casa não precisa ser adaptada para que a mulher dê à luz. As parteiras costumam levar apenas um equipamento para acompanhar a freqüência cardíaca do bebê, tesoura para cortar o cordão umbilical, gaze e algodão. Toalhas e lençóis, por exemplo, não precisam ser esterilizados, já que nenhuma intervenção cirúrgica é feita.
Valentina nasceu perto das 10 horas da manhã. Durante o trabalho de parto, Vilma conversou com Claudia, fez massagens e, nos momentos de dor, passou segurança e tranqüilidade. Como acontece nos partos realizados em casa, a mãe não recebeu nenhum tipo de anestesia nem sofreu procedimentos invasivos. Durante o trabalho de parto, as parteiras indicam posições mais confortáveis, mas deixam a mãe à vontade para decidir onde e como quer ficar. “Nós transmitimos segurança e calma para que a mãe faça o seu papel”, acredita Vilma.
“A Vilma ficou invisível na hora do parto. Ela dizia que era um momento meu, muito íntimo. Entrei em outra sintonia. Uma hora, na sala, fiquei de cócoras e a cabeça do bebê saiu. Em seguida, me deitei no chão e a Valentina nasceu”, conta Claudia. Acompanhada por duas amigas, tudo correu muito bem, mas ela diz que sentiu muita, mas muita dor. E quanto aos preparativos, a coisa não saiu exatamente do jeito que imaginou. Ela havia comprado velas, incenso, escolhido músicas para o momento. “Tinha uma fantasia de como seria, mas na hora foi tudo mais visceral e a dor é muito grande”, conta.
Valentina nasceu e foi para o colo da mãe. A musicista ficou o tempo que quis com ela, ainda ligada pelo cordão umbilical. Só depois é que o bebê foi pesado e medido. Claudia amamentou a filha, e Vilma só foi embora quando a mãe já se sentia segura. Depois, voltou nas duas semanas seguintes, quase que diariamente. Com o tempo, as consultas foram se tornando mais distantes.
Hoje, Claudia enxerga seu parto como um ritual e afirma ter saído fortalecida da experiência. “Existe um mito em torno do parto, mas ele pode ser muito mais simples do que a gente imagina. E tem mais: é uma experiência única, inigualável. Não vou dizer que não senti dor, senti, e muita, mas a recompensa, a sensação depois, é boa demais”, conta.
- Barreiras:
Mas não são todas as mulheres que, mesmo após conhecer a parteira e se identificarem com o trabalho, têm o filho em casa. Muitas vezes elas sofrem críticas de familiares e amigos, e acabam sendo desestimuladas. “Na verdade, não culpo a família nem os amigos pelas desistências. O parto sempre foi e continua sendo um momento de insegurança para a mulher”, relata Marília, que nasceu de parto em casa e auxiliou sua filha a ter os três netos também na residência.
A enfermeira-obstetra conta que a sociedade é tão preconceituosa que há casos de vizinhos que chamam a polícia quando a mãe decide ter o filho em casa. “O mundo ficou muito neurótico”, afirma Marília. Quem critica o parto domiciliar afirma que, em caso de emergência, tanto a mãe quanto o bebê ficam desamparados. Mas, de acordo com Vilma, ao primeiro sinal de que algo pode dar errado, a mulher e o recém-nascido são levados rapidamente para um hospital próximo.
A jornalista Joanna Savaglia, mãe de Rodrigo e Marina, enfrentou de perto o preconceito. Quando estava grávida da Marina, foi atrás de informações sobre parto em casa. Ela conta que no parto do Rodrigo não estava bem-informada sobre as possibilidades e acabou fazendo no hospital.
No sétimo mês de gravidez, Joanna decidiu ter Marina em casa. “Meu marido era contra, mas estava fácil de convencê-lo.” A situação mudou quando a jornalista contou para colegas de trabalho que iria ter a filha na própria residência. “Elas me acharam maluca. Minha chefe telefonou para o meu marido e disse que era uma doideira o que eu queria fazer”, relata.
O pai ficou inseguro e, como Joanna queria tê-lo ao seu lado na hora do parto, optou pelo hospital. No entanto, procurou um meio-termo. O parto foi realizado em um hospital, mas com uma parteira. Mas o sonho de dar à luz em casa ainda não foi abandonado: “Quem sabe eu não tenho um terceiro filho?”, termina.