sábado, 5 de abril de 2008

CANTO DA SEREIA 2 - OS FOLHETOS

Resolvi voltar à reflexão do canto da sereia para abordar outra vertente que igualmente considero importante no sentido de constituir mais um alerta para as mulheres com necessidades de cuidados obstétricos.
Conforme foi dito na reflexão canto da sereia, há estratégias para difusão de queres institucionais ou profissionais que são criadas através da utilização de argumentações bem elaboradas, entoadas de forma harmoniosa, mas fundamentalmente feitas para não serem contestadas.
Da minha prática clínica diária, quando questiono habitualmente a mulher se está na posse de todos os dados referentes aos diferentes procedimentos a que pode estar sujeita quando internada, se conhece as vantagens, desvantagens e riscos das diferentes práticas, a resposta invariavelmente vai-se tornando a mesma: sim, já li os folhetos várias vezes.
O folheto.
O folheto, panfleto ou brochura representam hoje um dos mais importantes veículos de informação das diferentes instituições e sectores, sendo por isso, provavelmente, uma das formas mais persuasivas que existe para se conseguirem os diferentes intentos. Quem é que ainda não entrou dentro de uma maternidade ou hospital e não viu espalhados pelas mesas os mais diversos e diferentes folhetos? Quem é que ainda não foi ás consultas de vigilância da gravidez e não lhe é oferecido um ou mais folhetos sobre as mais diversas áreas temáticas?
É por isso que muitas mulheres na ânsia de tentarem encontrar respostas para as suas dúvidas, buscam aqui a informação que provavelmente necessitam e que julgam ser completa e isenta para assim se sentirem preparadas para enfrentarem os futuros desafios. Até aqui tudo seria perfeito se estas ferramentas de facto fossem construídas de forma equilibrada, séria e abrangente.
Mas o que se verifica afinal? Acontece que estes folhetos, elaborados pelas diferentes unidades/sectores hospitalares têm embutidos a visão cooperativista daquela ou daquelas unidades e veiculam assim, de forma natural, a visão que mais convém para aquela área específica. Outros folhetos são feitos por grupos de estudantes que no intuito de dar resposta aos respectivos planos curriculares constroem brochuras/panfletos sob a supervisão escolar e muitas vezes desenquadradas das necessidades da mulher. No fundo, todos se acham capazes de elaborarem informações escritas focando apenas e estritamente a sua área de actuação. Não é mais do que a visão médica actual que divide o ser humanos em partes ou unidades, esquecendo a interacção do seu todo, isto é, a visão humanista e holista do ser humano
Elaborados com frases simples e de fácil assimilação, de cores agradáveis e discurso apelativo, constituem, assim, de forma simples e rápida a maneira fácil de atingir os quereres dos interesses institucionais. Estas ferramentas contêm, na sua grande maioria, aquilo que os próprios profissionais consideram importantes para eles e aquilo que eles também consideram que servem melhor para as suas práticas. Veiculam informação de forma objectiva e concisa no sentido de determinar o que é que as mulheres devem ter, possuir, levar, fazer e comportar. Enaltecem vantagens de procedimentos que se sabe comportar riscos importantes para a mulher e criam-se assim esperanças de ofertas paradisíacas. No fundo, vinculam a mulher a comportamentos padronizados, modelam formas de estar e de relacionamentos e bloqueiam o sentido crítico das utentes.
Com esta forma de canto da sereia, as mulheres estabelecem um vínculo afectivo com estes folhetos e incorporam-nos como instrumentos fundamentais e orientadores de futuros comportamentos, acabando por terminar muitas vezes com desfechos muito desagradáveis para aquela mulher, bebé e família. Para os profissionais, também estes instrumentos servem os respectivos interesses porque por um lado facilita a difusão da sua mensagem e garantem que ela chega, de facto, ao público-alvo e por outro consideram estar completo e bem feito o seu trabalho no abrangente processo do cuidar.

4 comentários:

Blogger de Saúde disse...

O Blog Cogitare em Enfermagem encerra hoje portas e abre um novo capitulo, ou seja um NOVO Blog que o convido a ver, comentar e participar.

Neste novo espaço teremos agora uma nova rubrica que será assegurada por comentadores externos que iremos convidar para que assegurem a sua opinião sobre determinados assuntos que todos queremos ver esclarecidos.

Em destaque Temos o artigo de Opinião da autoria da Enfermeira Lucília Nunes, sendo já certo que mais e de diversos autores se seguirão preferencialmente um por mês, no entanto se assim for possível ou necessário, colocaremos mais artigos de forma mais frequente.

Estendemos a passadeira Vermelha para que nos possam visitar no novo Espaço agora criado e cujo nome será:COGITARE EM SAUDE.

Pediamos era para actualizar o Link para o novo blog.

Abraços e bom fim de semana

Cristina Gomes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristina Gomes disse...

eeheh

realmente, estou cheia de folhetos ali na minha pasta das coisas da maternidade! :o)

Paula Correia disse...

Estou de acordo com este texto.